sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Boa hora



Ali na Boa Hora, nasceu em 1677 um edifício histórico, paredes meias com o Palácio do conde de Barcarena, ergueu-se um convento de Dominicanos Irlandeses, ergueu-se o convento da Boa Hora, no então designado Pátio das Comédias.
Com a extinção das Ordens Religiosas, passou a Quartel do 1º Batalhão dos Voluntários do Comércio, isto depois de ter sido parcialmente destruído aquando do terrivel terramoto de 1755. Manuel da Maia e Eugénio dos Santos trataram no entanto de o reconstruir, dando-lhe a importância que lhe era devida.
Há 165 anos foi transformado em tribunal, eternizado por ter sido o 1º tribunal Europeu a proíbir a pena de morte. Desde então tem sido palco de inúmeros julgamentos mediáticos, alguns dos quais nunca poderemos, nem deveremos esquecer.
Hoje tem os dias contados e pouco mais do que a fachada irá sobrar, quando ali nascer mais um Hotel de charme que apenas estrangeiros não merecedores de tão mítico espaço, irão frequentar.
Lisboa à custa de interesses financeiros, perde mais um edifício mágico que deveria ser preservado, em vez de esquecido como acabará por ser. Imagino já o portão majestoso a afastar os olhares dos indiscretos para o largo que outrora foi nosso por direito...
Em Portugal começa a ser costume vendermos memórias em troca de alguns euros, que são úteis a curto prazo, mas que em nada no servem a longo prazo. Foi assim também com a antiga sede da PIDE em Lisboa, que agora virou condomínio de luxo.
Tudo isto tem um pouco a ver com a falta de moralidade dos nossos políticos, que não entendem as pessoas e a história de tão grande Nação, vendendo tudo desde que isso renda uns trocos cá pa malta. À custa da falta de visão, vamos assim desbaratando pedaços de história, vendendo a alma ao dinheiro, como se a memória não fosse mais do que um pedaço de terra que pode ser assim vendida, consoante o seu valor e a nossa necessidade.

1 comentário:

[anna] disse...

dos usos afectos a cada edifício, em cada período da história, é sempre, ou na grande maioria das vezes, denominador comum o facto de servirem a população... não acho de todo descabido o tribunal desocupar aquele espaço para ocupar um outro com melhores condições e pensado para o efeito. acho mal, isso sim, a sistemática criação de guetos que previligiam unicamente os endinheirados e, incrivelmente, negam um pedaço de cidade [e consequentemente da sua história] a uma população que, diariamente, a conta e faz. Metaforicamente, criam-se castelos ou muralhas para os ricos e, nas imediações, extra-muros, vive activamente uma outra população que alimenta o pedantismo e indolência dos que vivem intra-muros. Isto NÃO é cidade.