quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Tratado

Queria poder fazer um tratado da alma, um género de redenção por aquilo que eu sei que podia ser e não sou. Queria escrever e com as palavras poder criar uma realidade paralela, onde não existissem futuros adiados, olhares desviados, frases cortadas ao meio e vírgulas trocadas por pontos finais. Peças de um puzzle perfeito, encaixadas uma a uma num desenho inacabado de qualquer coisa.

- É isto que levamos da vida

Mas não me disse o quê e eu fiquei a pensar que são as pequenas coisas, numa admiração envergonhada, que as grandes coisas jamais poderiam surpreender. Temos que ver se abrandamos o tempo, que isto assim não dá e lá vamos dando por nós, a achar que o tempo por passar tão rápido, não tem valor.

- São estas coisas que nós guardamos quando morremos

Coisas pequenas, gestos escondidos, olhos que nos sorriem, palavras genuínas, abraços perdidos no tempo e beijos que unem, um obrigado merecido, um riso descontrolado, duas peles que se tocam e criam uma energia qualquer.

- Precisamos de energia pá!

E construímos barragens para estancar o amor, montamos hélices gigantes a ver se amestramos o vento dos outros, estudamos o mar para não irmos ao sabor da maré, fazemos de tudo e aqui estamos nós, sem eira nem beira, nem rumo para navegar.

- Será que vou chegar a velho sem saber o que quero fazer da puta da vida?

Não sei se engenheiro se escritor, político talvez, ou um voluntário sem causa que só dá e nada tira, um
nómada sem passado nem futuro, de terra em terra com o presente do tempo. Será isso coragem ou cobardia?

- Somos uns coninhas pá!

Eu só queria fazer um tratado da alma, um género de redenção por aquilo que eu sei que podia ser e não sou, mas afinal acho que prefiro viver do presente, com passado mas sem futuro, imerso num sem fim de “ses” feitos “sins”.

- Deixa-me só tirar-te uma fotografia…

Quero guardá-las todas comigo e fazer com elas o que quiser.