quarta-feira, 6 de julho de 2011

Uma história diferente

A nossa é uma daquelas histórias bonitas em que alguns não acreditam. Com principio, meio, mas com o fim por escrever. Só o presente de vez em quando, a cada memória, a cada presença, a cada ausência, a cada momento sozinho. A gente pensa sempre que o tempo há-de apagar as coisas que nos magoam, mas quase nada é exclusivo da dor, e as memórias, habitam na ponta de um pêndulo que oscila entre o mau e o bom, entre o que queremos lembrar e o que preferimos esquecer. Eu, que acho que nós crescemos mais na dor que na alegria, preferia não esquecer nenhuma delas e guardar todas, para poder revive-las sempre que reparo que o amor é cada vez mais difícil de encontrar.

- Escreve um texto sobre mim...

- Tu não mereces.

E veio-me à cabeça o primeiro beijo nuns sofás cambalhota, o pneu furado ao pé de Sevilha, a subida à torre Eiffel quando fiz 30 anos, as vezes em que me consolaste num abraço perdido no tempo e decidi escrever um elogio à amizade, um agradecimento honesto às coisas que contrariam a aleatoriedade da vida e que nos ligam a alguns seres por algo mais do que o evidente, por uma química indecifrável, por uma energia que permite a junção dos átomos numa espécie de fusão prometida mas utópicamente adiada.

- Fala! Em que é que estás a pensar?

Uma paixão que se foi esfumando a cada pedaço de orgulho guardado, a cada cedência contrariada, uma porra de uma eternidade que se transforma na inevitabilidade de um fim, de mais um carpir de mágoas, em que eu me convenço que sou mais forte do que tudo e que hei-de conseguir manter-me de pé por entre o nevoeiro da dor.

- É tua amiga?

E continuo a fintar o amor, a esconder-me dos sentimentos que nos deixam vulneráveis à cegueira de uma paixão descontrolada, a evitar certezas que se desfazem em desilusões que nos roubam pedaços que julgávamos serem exclusivamente nossos, intrinsecamente nossos. E agora dois seres que se respeitam num carinho temente, como se ambos soubessem ser impossível esconder um do outro, a dor que se guarda por entre camadas de esperança em amar assim outra vez.

- Vamos ser amigos para sempre!

Abrias portas por mim, acendias a luz e trazias-me à terra, como se faz aos meninos que sonham muito tempo acordados e eu, ajudava-te a ver as coisas como um passado intocável e o futuro, como uma história por contar de mil e uma formas capazes de te afastar da tristeza.

- Adoro a vossa relação!

Tu chamavas-me de louco e eu a ti de maluca, os outros talvez nos chamassem de insensatos por amarmos de forma tão diferente. Nós provámos-lhe que os insensatos eram eles, porque amámos e soubemos manter um amigo, quando tanta gente ama a vida inteira sem gostar. De ti guardo todas as partes boas e as más também. E um dia, quando encontrar outra mulher singular, vou sentir que aconteceu por nunca ter deixado de acreditar que o amor compensa mesmo e que algumas histórias, só podem ser escritas por duas pessoas assim.