segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Somos feitos de carne



Podemos estar o dia inteiro sentados, à espera de uma nossa senhora qualquer, ou de um Sebastião que chegue numa neblina matinal, de braços cruzados e queixumes numa surdina em que mais parece que nada se diz. Dia após dia, de pés bem assentes na terra, que isso dos sonhos é coisa de loucos e só traz desilusões. E, numa espécie de asco que toda a gente humana expele de vez em quando, num tossir que mais parece um,

- Ladrões!

Esvaziamos o saco que vai enchendo, fechamos a porta, ligamos a TV e esquecemos tudo, afinal para quê vivermos com rancores dentro nós? E imaginamos uma personagem de bigode empoleirado num megafone antigo, de calças à boca-de-sino e camisola de gola alta, que faz da sua vida um protesto, que há-de acabar numa reforma antecipada pelo tempo que lhe roubaram as vitórias dos maus sobre os bons. E agora, aos 60, ainda o vemos por entre os jovens que de vez em quando se unem, por uma causa que lhe é familiar em tanta coisa,

- A luta continua! A luta continua!

A merda da luta que parece não ter fim… E as imagens pesam tanto que às vezes  se torna impossível  ignorá-las.  Instalam-se e crescem de tal forma, que só vemos um bigode empoleirado num megafone espumado e nem um sinal do Sebastião, ou de uma senhora que surja a uns pastorinhos quaisquer, nem sombra de um herói que nos aponte um caminho desbastado, no qual se consiga ver uma luz ao fundo deste túnel escuro pelo qual tacteamos, à procura do caminho certo por entre tantas bifurcações, que no fim, tudo se parece esgotar num jogo da cabra cega sem nenhuma entidade divina que nos valha.


- A culpa é dos políticos!

- A culpa é desses mandriões que vivem à custa do estado…

Parece que não sabem que a culpa em Portugal nunca é de ninguém, que acabamos sempre por dar de um lado e tirar do outro, enquanto cruzamos a generosidade com o maldizer, a inveja com a felicidade, o ser pequeno mas ser único…

- Se deus quiser há-de correr tudo bem!

Cá para mim podem esperar sentados pela omni-ausência de alguém, porque eu prefiro a realidade à ilusão e então respondo sempre na mesma moeda,

- E se deus não quiser? E se nem sequer tiver opinião sobre o assunto e lhe forem completamente estranhos os nossos problemas?

E as pessoas riem-se

- Coitado…

Mais um que se alimenta da própria alma em vez do corpo de deus, servido gratuitamente em forma de hóstias na paróquia mais perto de si, que isso da fome só bate à porta de quem não tem fé.

E falamos à boca cheia da justiça e da injustiça da vida e de como tudo deveria ser. Clamamos por igualdade e solidariedade, mas à segunda deixamos o filho mais novo no colégio, que o mais velho já vai de carro para a faculdade privada, sem que sejamos capazes de pensar na contradição entre as palavras e os actos. Sem que consigamos perceber que a igualdade se esgota na própria condição do ser humano e, que afinal depositamos na humanidade uma esperança infundada.

- Vamos honrar os nossos compromissos!

Numa caravela milenar, à deriva num mar cheio de adamastores que guardam o fim do mundo que há-de ser uma queda de água para o infinito, ou para a boca dentada de um monstro escabroso, quando afinal estamos sentados em casa, de mãos atadas e olhos vendados enquanto deixamos que nos levem tudo.

- Isto queria era um novo salazar!

E no meio disto tudo, confesso que o que mais me assusta é saber que o medo pode cegar as pessoas…

terça-feira, 11 de outubro de 2011

O Rambo


O Rambo de Ruivães bem podia ser o nosso zé povinho personificado, um símbolo do povo quando mais falta nos faz. Tem uma empresa a meias com o irmão, mesmo aqui em baixo da minha casa, onde vende os melhores frangos de Lisboa e as melhores imperiais da União Europeia e ali, toda a gente pertence à mesma família.

- Viva primo! Que é que vai ser?

De trás do balcão lança-me um aperto de mão e um sorriso de puto traquina, enquanto vira frangos de óculos na testa e camisa aberta, a mostrar o medalhão de ouro com a santa lá da terra, que o Rambo pode ser duro de roer, mas a fé faz falta a toda a gente. De ténis confortáveis, que aquilo são muitas horas de pé e aposto que ainda lhe junta umas meias de descanso com a frequência diária da boina branca que o irmão Nelinho usa, enquanto festeja cada café servido com troco dado e tudo.

- Missão cumprida! Religiosamente!

E aquilo parece-me uma blasfémia propositada, uma ironia sem ponta de piada, porque ali, naquela empresa de balcão de alumínio e janela para a avenida, nada é sagrado a não ser as brasas do frango e as imperiais bem tiradas. E o Rambo, sempre ele, de avental pela cintura e dentes arreganhados, porque afinal o sorriso é como outra coisa qualquer, se não lhe damos uso torna-se velho e cansado.

- Família!

E ergue os dedos num “V” de vitória bem acima da cabeça, porque o mundo não pode ser só das cores que nós vemos, nem nós podemos viver presos nas dimensões da nossa forma. Por isso ali a crise não entra e pagam-se rodadas como se fossem os homens mais ricos do bairro, de barriga encostada ao balcão e espuma branca no canto do bigode mal aparado, mas o rambo não, que um militar à séria não se dá a esses desleixos.

- Coitado… Apanhou a mulher com outro e ficou assim.

Um desgarrar de histórias infelizes que se choram naquele balcão, confortadas por um copo de vinho caseiro ou um cálice de medronho, que limpa a tristeza e devolve um sorriso às caras vazias de esperança e aos bigodes fechados e roídos pelo nervoso miudinho de uma falta de coragem a tempo inteiro. Porque na empresa do Nelinho e do Rambo, o sonho confunde-se com a realidade como no inicio do sono, e damos por nós a caminhar por outro mundo paralelo.

- No Vietname não havia dentistas!

Eu quando ali entro sou um antigo companheiro de guerra do Rambo e dou por mim a lembrar-me dos dois no meio do mato, de G3 na mão e faca presa nos dentes, enquanto desbravamos caminho por um pântano qualquer que nos esconde dos pequenos homens amarelos que nos querem matar. Falamos dos que salvámos e dos que matámos também e recordamos histórias de pequenas conquistas vietnamitas, em que ele, acaba sempre por dizer qualquer coisa que me faz rir sem conseguir dizer mais nada.

- São uma cambada de putas e xulos!

Eu dou-lhe razão e lembro-me dos dias maus em que me sacou um sorriso, dos segundos em que me tornou sonhos em realidade e saio dali com a certeza de tudo, pelo menos até ao virar da esquina, em que já duvido que tenha estado no Vietname com ele. Mas depois encontro à porta de casa a antiga glória do Benfica, que jogou com o Eusébio e mando à fava realidade e fico-me pelo surrealismo deste quarteirão da Afonso III, afinal que piada tem a vida se não sonharmos acordados de vez em quando?

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Uma história diferente

A nossa é uma daquelas histórias bonitas em que alguns não acreditam. Com principio, meio, mas com o fim por escrever. Só o presente de vez em quando, a cada memória, a cada presença, a cada ausência, a cada momento sozinho. A gente pensa sempre que o tempo há-de apagar as coisas que nos magoam, mas quase nada é exclusivo da dor, e as memórias, habitam na ponta de um pêndulo que oscila entre o mau e o bom, entre o que queremos lembrar e o que preferimos esquecer. Eu, que acho que nós crescemos mais na dor que na alegria, preferia não esquecer nenhuma delas e guardar todas, para poder revive-las sempre que reparo que o amor é cada vez mais difícil de encontrar.

- Escreve um texto sobre mim...

- Tu não mereces.

E veio-me à cabeça o primeiro beijo nuns sofás cambalhota, o pneu furado ao pé de Sevilha, a subida à torre Eiffel quando fiz 30 anos, as vezes em que me consolaste num abraço perdido no tempo e decidi escrever um elogio à amizade, um agradecimento honesto às coisas que contrariam a aleatoriedade da vida e que nos ligam a alguns seres por algo mais do que o evidente, por uma química indecifrável, por uma energia que permite a junção dos átomos numa espécie de fusão prometida mas utópicamente adiada.

- Fala! Em que é que estás a pensar?

Uma paixão que se foi esfumando a cada pedaço de orgulho guardado, a cada cedência contrariada, uma porra de uma eternidade que se transforma na inevitabilidade de um fim, de mais um carpir de mágoas, em que eu me convenço que sou mais forte do que tudo e que hei-de conseguir manter-me de pé por entre o nevoeiro da dor.

- É tua amiga?

E continuo a fintar o amor, a esconder-me dos sentimentos que nos deixam vulneráveis à cegueira de uma paixão descontrolada, a evitar certezas que se desfazem em desilusões que nos roubam pedaços que julgávamos serem exclusivamente nossos, intrinsecamente nossos. E agora dois seres que se respeitam num carinho temente, como se ambos soubessem ser impossível esconder um do outro, a dor que se guarda por entre camadas de esperança em amar assim outra vez.

- Vamos ser amigos para sempre!

Abrias portas por mim, acendias a luz e trazias-me à terra, como se faz aos meninos que sonham muito tempo acordados e eu, ajudava-te a ver as coisas como um passado intocável e o futuro, como uma história por contar de mil e uma formas capazes de te afastar da tristeza.

- Adoro a vossa relação!

Tu chamavas-me de louco e eu a ti de maluca, os outros talvez nos chamassem de insensatos por amarmos de forma tão diferente. Nós provámos-lhe que os insensatos eram eles, porque amámos e soubemos manter um amigo, quando tanta gente ama a vida inteira sem gostar. De ti guardo todas as partes boas e as más também. E um dia, quando encontrar outra mulher singular, vou sentir que aconteceu por nunca ter deixado de acreditar que o amor compensa mesmo e que algumas histórias, só podem ser escritas por duas pessoas assim.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Origens

Às vezes um raio de luz que nos aquece, um vento forte que nos abraça, um pingo de chuva que nos molha e nos desperta. Às vezes um salpico do mar, o cheiro a terra molhada e os pés sujos no chão que nos diz de onde viemos.

- Vamos jogar à bola para o pinhal?

Hoje já não há pinheiros, só uma casa no canto onde outrora havia a clareira com as medidas oficiais de qualquer campo imaginário. À volta, um descampado que se estende até ao ribeiro lá em baixo que seca todos os verões. Os tempos mudam, mas as vontades são quase sempre as mesmas, transfiguradas por mais ou menos acessórios que naufragam perdidos, nos sonhos que vamos tendo. Apanhávamos caracóis e assávamos num tacho com o fundo furado quando chegava o calor, regávamos laranjeiras de pés descalços, ajudávamos na vindima por entre abelhas e vespas, e essas coisas ficaram gravadas numa folha que resiste às piores tempestades que vamos encontrando.

- Para o ano vamos viver para Sines!

Sines? Onde é que isso fica?

- Fica no sul, junto ao mar.

E uma rua em calçada que desce para o azul da praia, por entre 2 casas que nos estreitam o olhar. E eu de lancheira na mão junto ao portão da escola, a aprender a viver com a tristeza da memória dos amigos que deixei, dos carrinhos que fazíamos para descer a rampa dos prédios, das varandas que eram abrigos contra os ciganos, dos arbustos onde guardávamos os rebuçados e as pastilhas elásticas que íamos conquistando e de um rio, que rasgava de azul a lezíria numa janela qualquer.

- Vamos andar de bicicleta logo à tarde?

Descobrir um novo mundo numa terra nova e refazer um bocadinho do nosso, peça a peça,como quem cola os continentes todos numa peça só. Descobrir amigos que são irmãos e aprender a viver num outro sítio. Descobrir o mar, vencer o medo de um susto e nadar cada vez melhor, para não ter medo de nenhuma corrente que me queira levar para outro lado, para outro sitio de onde eu nunca serei.

- Quero ir para a praia!

E gritar "pipeline!!!" enquanto desço a esquerda do molhe, como nos filmes de bodyboard que víamos em casa do João ou de mãos dadas com a miúda mais gira que eu conhecia, numa carrinha escura que voltava de uma prova de natação. E passei a ser de Sines num pôr do sol dentro de água, numa camisola branca com Sines escrito no peito, a rir com os amigos no largo do castelo, num primeiro beijo tremido numas escadas viradas para o mar.

- Já não te via aos anos mano!

Amigos que deixamos de ver mas que vivem escondidos dentro de nós, que as vidas separam-se e os nós desfazem-se mas ficam marcados, vincados, ao pé de outros novos que se vão criando. Como rectas coincidentes num certo ponto, repetidamente coincidentes, que nos aproximam de algumas pessoas e nos afastam de outras.

- É o destino!

Tudo tem de ter um nome para o que não sabemos explicar, mesmo que seja apenas isso, um nome sem mais nada, sem valor nem sabor. E aprendemos que na vida vale tudo e que temos que ser nós a criar as nossas regras, a saber o que não queremos mesmo que não saibamos o que queremos, que isto da vida é complicado, por isso, porque não simplificar?

- Vamos lá?

- Bora!

Jogar à bola para uma clareira num pinhal, dançar numa festa junto ao rio, dar um beijo numas escadas viradas para o mar, dar-te a mão numa carrinha escura, sacar um tubo cristalino que num segundo dura a vida inteira e um olá envergonhado... Como quando duas pessoas se estranham por descobrirem que afinal são 2 rectas coincidentes num ponto, mas não saberem como será o amanhã.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

os monstros

Por entre os 2 cortinados que me protegiam da luz da rua, espreitava um monstro com a cabeça do filho de um casal amigo dos meus pais.

- Mamã, não quero dormir sozinho!

Quando temos medo regressamos a casa e tentamos quase sempre manter as coisas que são nossas, completamente a salvo de tudo. Acho que a quantidade de coisas que estamos dispostos a deixar para trás, para nos salvarmos do medo, é inversamente proporcional à pessoa que somos. Há quem deixe tudo para trás e só se salve a si, outros há que salvam milhares enquanto fazem o mesmo por eles.

- As pessoas não podem ter medo da mudança

Tapava a cabeça com os lençóis e ficava ali, lembro-me que preferia não ver nada do que enfrentar aquele monstro que já imaginava à beira da minha cama. Hoje ainda sou igual quando prefiro não ver o talão do multibanco, sempre que levanto dinheiro. As pessoas nunca mudam realmente, escondem os mesmos medos, as mesmas inseguranças, disfarçam os mesmo defeitos, ocultam cicatrizes antigas, sorriem quando lhes apetece chorar, choram quando a solução é andar para a frente, usam máscaras que deixam cair quando o medo lhes bate à porta.

- Estamos a caminhar para o abismo!

E damos um passo em frente, de olhos fechados e os lençóis a defenderem-nos da queda, pode ser que se encham de ar e se transformem num balão que nos aterre suavemente no chão. Mas e se não houver chão? E se só houver espinhos nos quais nos vamos afundando, enquanto nos dilaceram o corpo e a alma até que fiquemos sem nada, sem alma nem corpo nem vestígio de nós.

- Vamos-nos juntar aos espanhóis!

De mãos abertas e sem nada para oferecer. A culpa é do Afonso esse malvado que batia na mãe. Saco de uma bandeira verde e vermelha e corro pela rua fora gritando,

- Portugal! Portugal! Portugal!

Não quero perder o meu País, estava previsto ir e voltar e não isto que se me avizinha, de não querer sequer voltar um dia, para uma vida calma, preocupado comigo e com os meus e que se lixe a corrupção, que se lixe a podridão, que já devia ser um homem calejado nessa altura. Qualquer dia partimos como antes partimos, em caravelas voadoras que nos levarão a novos mundos no mundo, a espreitar por entre os lençóis e os cortinados parados, só um vulto a cada piscar de olhos assustado.

- Já fomos donos de meio mundo e agora nem no nosso País mandamos...

Uma frase diz tanta coisa, que às vezes só se lhe pode seguir um silêncio escuro e pesado, de sabor amargo e som abafado. Tiramos os lençóis para o lado, pomos os pés no chão e vamos espreitar atrás dos cortinados entreabertos para a rua por onde eu acho que ele fugiu. Pode ser que aí, a gente perceba que os monstros só existem dentro de nós.

domingo, 13 de março de 2011

O Mundo por uma lente - Capítulo 2





MOINHO DE MARÉ - CORROIOS

Ao longo da Idade Média, o aproveitamento da energia das marés para a moagem dos cereais conheceu uma difusão no espaço europeu, tendo sido identificadas na Irlanda do Norte as mais antigas estruturas deste tipo, as quais remontam ao século VII. Posteriormente viriam a ser edificados moinhos de maré em diversas regiões do litoral Atlântico Europeu, e a partir do século XVI, também em outros Continentes.

O Moinho de Maré de Corroios foi edificado em 1403 por ordem do Condestável, D. Nuno Álvares Pereira. Foi ampliado no início do século XVIII após ter sofrido grandes danos no terramoto de 1755. Em 1980 foi adquirido pela Câmara Municipal do Seixal, que o restaurou e abriu ao público, em Setembro de 2009, como parte do Ecomuseu Municipal.

O Moinho de Corroios é dos raros que se mantém em funcionamento na área do Estuário do Tejo.

sexta-feira, 11 de março de 2011

A luta



Trago presas a mim uma série de cordas que me servem de lastro, numa batalha constante, entre aquilo que me faz voar e aquilo que me faz sempre voltar a terra.
Sabes, acho que as pessoas são feitas de pedaços de coisas que nos acontecem.

- Vamos lá hoje?

Na ponta de cada corda, uma lata cheia das mais diferentes coisas, a família, os amigos, a ideia de uma vida cheia, de um amor ideal, a imagem que achamos que os outros têm de nós.
Li algures que cada pessoa são três pessoas diferentes, uma aos olhos dos outros, outra aos nossos e aquela que somos na realidade.

- O meu filho já tem a vidinha feita!

Casa comprada, carro novo, mulher e para breve um filho, tudo para pagar durante a vida. Sim, que cada vez se vive até mais tarde por isso há muito tempo para pagar. As latas arrastadas pelo chão, porque a chama não é tão forte assim para aquecer o ar do nosso balão. E então vivemos na nossa pequena capoeira, com asas mas sem saber como voar sobre as paredes da nossa vida.

- Hoje mascaraste-te de deusa foi?

Palavras que ficam por dizer, actos guardados e arrumados numa gaveta qualquer, e nós fechados na nossa bola de cristal, tão depressa transparente como opaca, para que possamos esconder só uma parte dos nossos medos, defeitos e contradições. A mim sempre me deixaram desconfiado as pessoas demasiado perfeitinhas.

- Vamos fazer uma manifestação pacífica!

Todos juntos, num chinfrim de latas pelo chão a fazer saber que estamos aqui e não somos parvos, que chova e faça frio à vontade, porque as nossas chamas não se apagam assim.
Acho que todos os jovens do mundo se deviam juntar, agora que temos um País que nos une a todos.

- Vamos marcar isto no facebook!

Qualquer dia temos mais gente que a China, mas sem armas, só um exército de palavras e imagens, e sem fronteiras que nos confinem a um espaço fechado. Havemos de conseguir fazer o que nunca foi feito, juntar o mundo inteiro em torno de um sitio só, e aí sim, alguma coisa poderá acontecer. Que se perdoem as dívidas virtuais, que se esqueçam as zangas antigas, porque nós ainda somos jovens e não queremos viver com estas cruzes todas a vida inteira. Corta-se a ponta da corda e já está! Voamos um bocadinho mais alto e vemos as coisas de outra maneira.

- E tu eras aquele miúdo mais bronzeado!

Mas já não somos miúdos sabes? Isso é o que nos chamam aqueles que não nos querem ouvir, mas a vida não nos deixa mais sermos crianças. É altura de pegar a vida pelos colarinhos e encostá-la à parede lá de casa.

- Vais à manifestação amanhã?

Não levo cartazes nem bandeiras, só uma folha A4 com umas palavras. Visto-me de escuro e vou com os meus sonhos todos para lá. E não me digam que não posso sonhar, porque foram vocês que me ensinaram que "sempre que o homem sonha, o mundo pula e avança" e desta vez, quem sabe, se não chegamos mesmo a voar.

- Se vocês mostrarem que têm força, os outros vão todos atrás!

Vestiste-te de preto e de certeza que nunca nada te ficou assim tão bem, não é que eu tenha sonhado, mas acordado vi-te num sonho feito por mim, em que me sorrias e dizias que sim. Mas as cordas às vezes parecem correntes sabes? Eu sei que sabes... Saltamos mas não saímos do chão, gritamos mas ninguém nos ouve, tentamos respirar e sufocamos, queremos ver melhor e ficamos cegos, afinal pode ser que seja preciso batermos no fundo, para finalmente não temermos mais nada.

domingo, 6 de março de 2011

O Mundo por uma lente - Capítulo 1





INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA - LISBOA

A Escola
O Instituto Superior de Agronomia (ISA) é, em Portugal, a maior e mais qualificada escola de graduação e pós-graduação em Ciências Agrárias, sendo o seu know-how reconhecido nacional e internacionalmente. Com 156 anos de experiência, adapta o seu ensino à evolução tecnológica e à realidade do País, apostando na qualidade e modernização do mesmo.

História
O Instituto Superior de Agronomia (ISA) tem as suas raízes remotas em 1852, com a criação do Instituto Agrícola e Escola Regional de Lisboa, no reinado de D. Maria II, durante a Regeneração, dirigida por Fontes Pereira de Melo.

No ano de 1864 verificou-se a junção do Instituto Agrícola de Lisboa com a Escola de Veterinária Militar (ao Salitre), que fora fundada pelo Governo do Rei D. Miguel em 1830 (29-III), criando-se, deste modo, o Instituto Geral de Agricultura.

Após a implantação da República, em 1910, todo o sistema educativo do País entra em transformação. O Instituto de Agronomia e Veterinária é extinto e substituído por duas instituições diferenciadas: a Escola Superior de Medicina Veterinária e o Instituto Superior de Agronomia. Era Ministro de Fomento do Governo Provisório da República Manuel Brito Camacho, que instituiu os títulos de Engenheiro Agrónomo e de Engenheiro Silvicultor para os novos licenciados do Instituto Superior de Agronomia.

Localização
O Instituto Superior de Agronomia (ISA) está localizado na Tapada da Ajuda a qual é um Parque Botânico com cerca de 100 ha, no interior da cidade de Lisboa, de reconhecido interesse internacional, no qual se destacam uma Reserva Botânica única (a Reserva Botânica Natural D. António Xavier Pereira Coutinho), onde estão representadas as espécies características do clímax da zona, jardins, arboretos diversos, viveiros florestais, terrenos de cultura (pomares, vinhas, prados, culturas arvenses e hortícolas) e diversas espécies domésticas e silvestres características.

Património

Para além do património botânico e vegetal, pode encontrar entre outros os seguintes patrimónios históricos e arquitectónicos:

- Edifício Principal do ISA;
- Pavilhão de Exposições;
- Minas de Água;
- Anfiteatro (ou Auditório) de Pedra;
- Observatório Astronómico de Lisboa.

Dados Interessantes
- Um dos antigos alunos desta instituição, tendo concluído em 1986 o curso de Engenheiro Agrónomo, na especialidade de Melhoramentos, foi o vocalista da banda Xutos e Pontapés, o famoso Tim.
- No interior da Tapada existe o restaurante de qualidade chamado "A Pateira".
- É possível o acesso automóvel ao interior da Tapada através do portão Jau (Rua Jau), sob o pagamento de 1,5€. De qualquer modo se for dada a indicação ao porteiro que nos vamos dirigir ao restaurante, talvez ele não cobre nenhuma taxa... dependendo do estado de humor do mesmo.
- A primeira antena de telecomunicações disfarçada de árvore foi instalada no interior da Tapada.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

O MUNDO POR UMA LENTE

As viagens e a fotografia são duas das minhas paixões, pelo que decidi juntar as duas e criar um espaço dentro deste blogue onde pudesse abordar os dois temas que tão bem se conjugam. Deste modo o "O Mundo por uma lente", será um desvendar de lugares, vilas, cidades e Paises que visitei e irei visitar. Tentarei de um modo suncito descrever alguns locais, dar indicações que possam ser úteis e ao mesmo tempo retratá-los para que quem não tenha a oportunidade de os visitar possa pelo menos ficar a conhecê-los.

Espero muito em breve dar início a esta jornada, sendo que este primeiro passo é essencial para que o processo seja desencadeado, e para que as muitas ideias que tenho deixem apenas de as ser e passem a ser palpáveis.

Desvendo apenas que a primeira viagem será ao Instituto Superior de Agronomia de Lisboa, local que apenas à pouco tempo tive o privilégio de conhecer. Ao contrário do que pensava não se trata apenas de um local de ensino, é muito mais do que isso, é um espaço público carregado de simbolismo e repleto de beleza.

Até breve!!

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Tratado

Queria poder fazer um tratado da alma, um género de redenção por aquilo que eu sei que podia ser e não sou. Queria escrever e com as palavras poder criar uma realidade paralela, onde não existissem futuros adiados, olhares desviados, frases cortadas ao meio e vírgulas trocadas por pontos finais. Peças de um puzzle perfeito, encaixadas uma a uma num desenho inacabado de qualquer coisa.

- É isto que levamos da vida

Mas não me disse o quê e eu fiquei a pensar que são as pequenas coisas, numa admiração envergonhada, que as grandes coisas jamais poderiam surpreender. Temos que ver se abrandamos o tempo, que isto assim não dá e lá vamos dando por nós, a achar que o tempo por passar tão rápido, não tem valor.

- São estas coisas que nós guardamos quando morremos

Coisas pequenas, gestos escondidos, olhos que nos sorriem, palavras genuínas, abraços perdidos no tempo e beijos que unem, um obrigado merecido, um riso descontrolado, duas peles que se tocam e criam uma energia qualquer.

- Precisamos de energia pá!

E construímos barragens para estancar o amor, montamos hélices gigantes a ver se amestramos o vento dos outros, estudamos o mar para não irmos ao sabor da maré, fazemos de tudo e aqui estamos nós, sem eira nem beira, nem rumo para navegar.

- Será que vou chegar a velho sem saber o que quero fazer da puta da vida?

Não sei se engenheiro se escritor, político talvez, ou um voluntário sem causa que só dá e nada tira, um
nómada sem passado nem futuro, de terra em terra com o presente do tempo. Será isso coragem ou cobardia?

- Somos uns coninhas pá!

Eu só queria fazer um tratado da alma, um género de redenção por aquilo que eu sei que podia ser e não sou, mas afinal acho que prefiro viver do presente, com passado mas sem futuro, imerso num sem fim de “ses” feitos “sins”.

- Deixa-me só tirar-te uma fotografia…

Quero guardá-las todas comigo e fazer com elas o que quiser.