sexta-feira, 29 de junho de 2012

Os estranhos e a minha felicidade

Lembro-me de quando era mais novo e ainda viajava no banco de trás do carro dos meus pais, pensar sobre como eram estranhos, todos os carros que se cruzavam connosco num determinado ponto da estrada e que depois, se afastavam até desaparecerem de novo. Imaginava quem seria aquela gente que se cruzava na minha vida, quase sempre tão depressa como desaparecia e achava muito estranho imaginar que elas pudessem ser gente sem me conhecer.

- Não sabes quem é que eu sou?

Acho que todos nós carregamos um ego demasiado grande que a muito esforço tentamos controlar, mas nada que o tempo não domestique civilizadamente, à medida que vamos vivendo ano após ano. Perdi a conta às vezes que o meu pai me disse,

-Tu ainda hás-de dar muitas cabeçadas na vida!

E nunca sei se são avisos perante as minhas teorias absurdas, se um desejo ou uma esperança de que eu aprenda com os erros, mas quase de imediato me imagino a bater com a cabeça nas paredes lá de casa, ou a chorar virado para um dos 4 cantos de uma sala que me esconda a vergonha do resto do mundo. É um facto que não consigo controlar, por muito descabida que me pareça uma frase, sempre que é dita por alguém de quem gosto muito, ela passa a viver dentro de mim e mistura-se com o infinito de frases, que todo o dia circulam no caos dos meus pensamentos e que me dificultam a concentração em actividades terrenas.

- Olha para as pessoas quando elas falam contigo!

Sempre achei que se podia ler os sentimentos de uma pessoa através dos seus olhos, ainda hoje acho e talvez por isso seja tão difícil manter o olhar fixo nos olhos de alguém. Quem me diz a mim que não percebem que passados uns segundos já estou a pensar noutra coisa qualquer, com a certeza de que apanho a conversa mais à frente, ou que apenas acho estúpido o que me dizem, ou que me custa a entender que não se aparem os pelos do nariz ou das sobrancelhas e que o meu olhos não consigam esconder aquilo que eu sinto.

- Não achas?

A juntar frases soltas para ver se consigo atá-las num discurso com nexo, enquanto abano a cabeça afirmativamente, ao mesmo tempo que espero pela reacção à minha concordância. O ferro do viaduto, o relvas que não se demite, os olhos castanhos de uma princezinha por quem sem querer me apaixonei, a levantar voo num avião com destino a Dubrovnik e a aterrar de novo, quando de repente percebo do que é que se estava a falar. E constantemente a tentar retroceder em pensamentos que se perderam até hoje e que talvez nem reconheça se os voltar a ter de novo.

- A pensar morreu um burro!

A vida dos outros sem a minha existência e os carros que passam e que nunca mais vejo, um universo que afinal não gira à minha volta, as cabeçadas que já dei e as que ainda hei-de dar, um futuro que é um cilindro sem fundo, o meu medo do não retorno, de me tornar alguém que não quero ser,

- Tu ainda és muito novo para perceber...

Será que dá para ficar sem perceber? Viver numa ingenuidade eterna no meu caos de frases perdidas e continuar a ser apanhado de surpresa pelas pequenas coisas da vida e mimado pelas grandes. Os amigos e as amigas que me tratam como alguém tão especial, um pai que se tornou na minha referência na escala dos valores das pessoas, uma mãe que é a fonte de toda a bondade do mundo e me faz sentir uma criança mimada, uma princezinha de olhos castanhos que me adoça as agruras do dia-a-dia, um irmão mais velho que é a definição perfeita da palavra irmão e um mundo que gira sem parar envolto por um céu de todas as cores do arco íris.

- Fazes-me tão feliz...

Desculpem a minha ausência de textos neste mundo transparente, mas ainda ando a ver se descubro como se escreve quando estou feliz.