quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Coragem

Sempre que me encontro, submetido a qualquer tipo de dor física, aparece, em jeito de coragem adicional, a imagem do meu avô Ernesto, encostado à parede da sua casa, um pé na parede, outro no chão, que presumo ter sido assente por ele, com a boina na mão para assim poder sentir melhor o sol na sua testa, enquanto sorrindo me chamava de alentejano. Instantes depois, já em cima da bicicleta, na qual se deslocava para o trabalho árduo no campo, partia sem olhar para trás, enfrentando o presente que o passado já não tem remédio. Nunca lhe ouvi uma queixa, uma reclamação, bem sei que eu era novo, demasiado novo, para ligar a queixumes, mas de facto julgo que ele seria mesmo assim e é assim que o guardo em mim. Não é que ele esteja sempre presente, pelo menos conscientemente, mas quando o medo e a dor aparecem, lá vem ele, a acalmar-me, ao sol a sorrir e do seu puro sangue ribatejano a chamar-me a mim, alentejano. Agora, anos mais tarde, queria dizer-lhe que nunca fui alentejano, que nunca o quis ser aliás, prefiro ser ribatejano, forte, corajoso e destemido, assim, como ele e a dor essa, não amedronta alguém assim.

1 comentário:

[anna] disse...

por vezes as emoções que um dia se assolam e permanecem em suspenso durante algum tempo... expressam-se assim. De forma tão verdadeira.
Tudo de bom
Ana