quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

As coisas da vida podem sempre ser mudadas a tempo



Esta tenho de vos contar. Aconteceu-me no outro dia enquanto te ouvia falar, ali, junto ao rio numa manhã fria de inverno, que estreava um novo ano. Passeei sozinho já de dia junto ao rio até se me acabar terreno seguro para caminhar, de frente para o mar, ao lado do Tejo, que lembro-me, corria naquela zona para montante, como que desejando ficar por ali, imagino que tentando contrariar a inevitabilidade de se vir a perder no teu imenso mar ali tão perto. Disseste-me quase nada, na altura nem percebi o que querias dizer. Soprou um vento gelado que me assobiou junto ao ouvido e tu desapareceste. Aterrou uma gaivota numa das estruturas aparentemente ali abandonadas e por ali ficou, estática durante alguns segundos, eu, olhei a ponte e quando reparei ja ela estava mais próxima, olhou para mim quando eu a olhei e quando observei novamente o rio, senti que ela também. Numa cidade como Lisboa e ali estava eu, a sentir-me em plena comunhão com a natureza, lado a lado como iguais, dois seres tão diferentes. Pensei, amanhã vou surfar, mas não fui, inevitáveis consequências de uma noite de excessos. Depois uma indigestão de camarões que comi alarvemente ocupou-me o fim-de-semana que restava, agora é trabalho durante o dia e com isto ainda não te fui ver de perto. Fica prometido que no sábado te vou visitar em Sines, isto se resistir amanhã ao teu apelo, pode ser que arranje quem me faça companhia e apareça ai para te dizer olá de sorriso rasgado quando já a noite for alta.
Tenho andado afastado de ti, mas o que me disseste naquela manhã fria e que eu só percebi já mais à noite, é-me impossível de ignorar.
Sinto a tua falta, enquanto o vento me soprava ao ouvido e a gaivota chegava a avisar-me que não estamos bem assim. Ainda me custa a acreditar, mas na minha inocência resolvi aceitar a falta que te faço, afinal de contas também tenho sentido a tua ausência. A culpa é minha, eu sei, fui eu que me afastei sem motivo aparente. Não te respondi por causa daquele vento frio, mas quando te vir vou dizer-te, que também sinto a tua falta. Mas não digas nada, desculpa-me em silêncio e vamos ser felizes como antigamente.

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