quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Porque não sorrir quando me posso esconder?

"As coisas acontecem quando menos esperamos"

E para mim é estranho que um cliché bata sempre certo.
Uma assustadora verdade provada no tempo, que apura a arte de mentir a nós próprios, de esconder os desejos e os medos e mostrar  apenas uma capa de força e de amor próprio, que pode enganar quase todos mas que nunca nos há-de esconder das nossas verdades. Talvez por alguns instantes que nos iludem com a felicidade de quem aceita o conformismo e não espera mais da vida senão pedaços de felicidade, que todos juntos não passam de um retalho que tapa parte de um corpo que se deixa levar pelo tempo, que nos deslumbra com um presente demasiado confuso para que saibamos onde estamos afinal.

- Consegues ver?

Um corpo à deriva numa tempestade celeste, num mar de dúvidas a curto prazo e de certezas suspensas. Um presente que nos deixa ausentes, um pensamento que se perde do essencial e tenta à força encontrar o caminho perdido que abandonou algures. Talvez na montra de uma loja de brinquedos antigos ou ao saltar uma fogueira com uma mão cheia de rebuçados, talvez no fundo de uma piscina ou na areia de uma praia qualquer, numa reviravolta da vida em que deixámos por instantes de ver. 

-  Tás a olhar para onde?

E como é que afinal as coisas haviam de acontecer como esperamos? Quando queremos tanta coisa, que nunca nos irá acontecer uma a que possamos chamar coisa. Quando nos acontece sempre outra que depois vaza com o tempo e se perde por entre umas mãos abertas, porque já se quer outra coisa qualquer que há-de vazar também? Num firmamento de pó que desaparece com a primeira brisa mais forte, que nunca chegou a ser nada a não ser nos nossos sonhos, numa despromoção realisticamente crescente, das ambições para sonhos,  até que pelo meio descobrimos que é tão fácil mentirmos a nós próprios como mentirmos aos outros.

- O que é que queres ser quando fores grande?

Um bombeiro que entra dentro dum prédio em chamas e salva a última criança, um astronauta que deixa a primeira pegada em Marte, um cientista que descobre a origem da vida, um futebolista que marca o golo da vitória da liga dos campeões pelo Benfica, como se uma pessoa fosse apenas um momento e que tudo o resto é apenas consequência dessa fracção de segundo, que aos olhos dos outros nos define enquanto ser.

- Na vida tens que tomar decisões!

Um sim e um não, um talvez, um dia destes quem sabe, porque isto de viver vai-nos dando a descobrir que quanto menos planos fizermos, menos nos desiludimos e que a incerteza é dos melhores afrodisíacos do mundo que nos é conhecido.

- Faz-te à vida!

Um bocadinho à esquerda, um bocadinho à direita, um passo em frente e fico parado a ver no que dá, que a vida pode dar voltas e voltas mas esta gente parece nunca estar satisfeita, reclamam por tudo e por nada, de cochicho em cochicho e depois quando é preciso,

- Boa tarde Sr. Doutor!

Que a coragem das palavras que expressam o que pensamos custa muito. Custa o conforto de um cumprimento, custa o carro e a casa, custa  a moto e pode custar as coisas todas que nós queremos. Puta que pariu a integridade que eu quero é um carro novo! Que é que me custa apertar a mão e sorrir? Cínicos somos todos, porque me há-de custar tanto a mim?

Sem comentários: