segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Relatos de um festival

- Deve saber bem acordar todos os dias com vista para esta baía!

Ia a caminho do castelo quando ouvi isto vindo de um grupo de quatro jovens sentados na esplanada do restaurante Mexilhão.
Gosto de ver Sines assim, vestida com o colorido de um corropio de gente para todos os gostos, ou quase, porque durante estes dias, por aqui, não há lugar a cinzentismos dos velhos do restelo habituais.
A música começou em Português, mas esperava-nos um mergulho nocturno por sons do Continente Americano. Um bom ponto de partida, unir os dois lados do Atlântico com dois palcos a servir de ponte.

- Nunca vi um festival com um ambiente assim!

Uma pessoa derrete-se a ouvir estas coisas, afinal o festival é a minha terra e essa, já não consegue viver sem as músicas que lhe trazem o Mundo por alguns dias.
À saída do castelo,

- Desculpa, ainda vais entrar ou posso ficar com a tua senha?

- Epá, olha há ali uma bilheteira em baixo, se calhar é melhor ires comprar bilhete, sempre davas dinheiro a quem faz isto, e olha que eles bem precisam...

Que raio de gente é esta que nem serve para comprar bilhete para um festival? Para mim o  FMM passa-se no castelo, ou nasce lá pelo menos, porque depois espalha-se dali para todo o lado, como a brisa que nos traz a meio de um concerto o cheiro a maresia.
O parque de campismo cheio, tendas na relva da APS, seres a deambular a toda a hora, por todo o lado, sem rumo aparente, preenchendo até os sítios que nos habituámos a ver desertos, bancos vazios agora acompanhados, canteiros que servem de poltrona, muros que são por uns minutos mesa de jantar e quase aposto que Sines gosta destas aventuras.

- Ai! Ainda agora aqui passou um casal, os dois descalços cada um com a sua garrafa de vinho debaixo do braço veja bem!

- Isso a mim não me faz confusão nenhuma, só não percebo porque é que os concertos da Avenida não são pagos.

Nem eu percebo, mas isso são contas de quem não as sabe fazer. Dois mais dois afinal são três de maneira que me é difícil tentar perceber alguns porquês. Nem estou para isso aliás, que o nosso Presidente diz que isto sim é serviço público, e se é público que se lixe a diferença deste dois mais dois, porque o que se arranjou aqui foi um espírito que não se pode perder e isso não tem preço. Daqui a alguns anos, quando estes jovens que em paz nos invadem forem pais, quando forem chefes, nem que seja de si próprios, quanto irá valer a imagem que guardam da nossa terra?

- O melhor de tudo é que aqui é tudo à borla! Só gastas dinheiro em comida e bebida.

Que isto dos espiritos não tem preço, e a coisa cria-se e depois não apetece nada deixá-la ir, assim de mão beijada à mercê de um prejuízo mais escondidinho.

- Ainda estou para ver o que vai acontecer ao FMM quando o Coelho sair daqui.

Não acontece nada, que o homem lá por ter deixado criar isto não lhe fica assim com o exclusivo e acho que ninguém quer perder este festival, mesmo que não dê dinheiro por x menos y. Ainda não sei como, mas qualquer dia ainda vos provo que a riqueza de um povo não se mede apenas pelo seu ouro em caixa.

- Há uma tenda na pedreira com festa até as quatro da tarde!

- Estes moços até metem medo...

Eu também tenho medo de chegar ao final de Julho e a minha Sines deserta, de bancos solitários, canteiros vazios, noites despidas, os mesmos sítios desertos, como costumam estar sempre, dia após dia. Mas agora passa, quando descer as escadas e me misturar com a maré de gente que inunda Sines, que me inunda a mim, da ilusão de que isto podia ser tão diferente daquilo que realmente é.

Aproveitem!

Sem comentários: